As fabricantes de papel e papelão instaladas no Polo Industrial de Manaus(PIM) amargaram queda de 21,39% no faturamento, no período de janeiro a maio deste ano, em comparação ao mesmo período de 2015. Para os empresários do setor, a previsão é que os índices continuem negativos com redução anual de até 30% na produção em relação aos resultados obtidos no último ano. O problema, segundo os fabricantes, está na baixa demanda pelas caixas de papelão e ainda na concorrência desleal com a importação dos produtos da China.
De acordo com o proprietário do Grupo Sovel da Amazônia, Ali Yacub, em 2015 a empresa contabilizou queda de 5% no faturamento, em comparação a 2014. Porém, neste ano, ele acredita que o cenário será um pouco pior com números ainda mais negativos. A previsão segundo ele, para 2016, é de queda de 30% no faturamento.
Yacub atribui o cenário negativo à baixa demanda por embalagens de papelão, tanto em Manaus como nos demais Estados do país. Somado a esse fator, o empresário cita a concorrência com as embalagens fabricadas na China. O proprietário ressalta que as fabricantes de bem final dão preferência às embalagens importadas frente às fabricações locais, o que segundo ele, prejudica o segmento fabril como um todo. “A situação está cada vez mais difícil e não temos muito o que fazer para reverter o problema. A solução seria proibir essa importação. Já falamos com o governador do Estado, José Melo, e com a superintendente da Suframa, Rebecca Garcia. Porém, eles nos prometem tomar providências, mas até agora nadafoi feito. Só podemos produzir mediante pedido para fornecimento. Se uma fábrica deixa de pedir, é menos material a ser fabricado”, explica. “As importações afetam nossa produção em até 20%”, completa.
Segundo o empresário, mensalmente a fábrica produz entre 2 mil e 2,5 mil toneladas de produtos entre papel, embalagens de papelão e bobinas de papel. A empresa utiliza 2 mil toneladas de matéria-prima para a fabricação mensal. Os papéis e aparas de papelão são fornecidos por uma cooperativa e a empresa Rio Limpo.
A produção é absorvida pelas indústrias do PIM, divididas entre todos os segmentos, como duas rodas, eletroeletrônicos, entre outros. Quando há pedidos, a Sovel ainda fornece produtos aos Estados do Pará e Maranhão.
Como resultado da baixa demanda, Yacub conta que o quadro fabril da empresa ainda passa por reformulação, com riscos de novas demissões até o final do ano. “Iniciamos o ano com 400 colaboradores atuando em três turnos na fábrica e hoje contamos com 330 funcionários. Porém, ainda estamos analisando a situação e no último caso haverá novas demissões”, comenta.
A fábrica conta com quatro galpões onde são produzidos papéis higiênico e toalha, bobina de papel nas linhas marrom e branca (que é a higiênica) e as caixas de papelão.
Brasil x China
Na avaliação do economista e conselheiro do Conselho Regional de Economia do Amazonas (Corecon-AM), Marcus Evangelista, o fator inicial a ser avaliado com relação à forte importação dos produtos chineses está na questão das leis trabalhistas em vigor na China e no Brasil.
Evangelista explica que a mão de obra chinesa é muito barata em relação aos pagamentos feitos aos brasileiros. Logo, o custo da produção estrangeira está bem abaixo dos investimentos feitos aqui no Brasil, o que torna o valor do produto mais acessível ao comprador. Porém, sem a garantia de qualidade. “As leis nos dois países são diferentes. No Brasil o salário mínimo equivale a 30 vezes mais ao valor que um chinês recebe. A mão de obra chinesa é barata, assim como o custo da produção chinesa também é baixo. Esse fator os deixa na frente e impossibilita o combate em questão de preço. A indústria brasileira fica muito atrás porque não há como concorrer. Seria necessário melhorar a cadeia produtiva de forma que conseguíssemos abastecer as fábricas com produtos competitivos. É uma situação que precisa ser discutida com precisão porque envolve diversas fábricas”, considera.
Fonte: Celulose Online