O executivo Walter Schalka comanda uma das maiores companhias brasileiras, a Suzano Papel e Celulose, dona de uma receita líquida de R$ 10,5 bilhões em 2017 – alta de 6,5% na comparação com o ano anterior.
Nos últimos anos, tanto pelo porte da empresa que comanda quanTo pelo seu desempenho na gestão, Schalka ganhou voz entre os empresários que, de forma direta e indireta, buscam contribuir para o aprimoramento da administração pública.
Em entrevista ao Estado de Minas, ele analisa o atual momento político e econômico do país e sugere saídas para os principais problemas nacionais.
Como a classe empresarial pode, efetivamente, contribuir para as mudanças de que o Brasil precisa?
Tenho ficado bastante preocupado com o fato de que estamos dividindo o Brasil.
Notamos um processo de que os extremos estão se fortalecendo e isso está criando um abismo nunca visto na sociedade brasileira.
Defendo a tese de que nós temos que buscar convergência de ideias, que temos de criar uma solução para os problemas econômicos, políticos e sociais, que gerem ao longo do tempo uma melhor qualidade de vida para a população, que resolva as questões crônicas que temos no Brasil sobre distribuição de renda, problemas na educação, desigualdade de oportunidades.
Como fazer isso?
A única forma é que a sociedade civil se engaje no processo de discussão.
Chega de A versus B, a direita versus a esquerda, de mortadelas versus coxinhas.
Precisamos ter uma solução para o Brasil e não uma disputa pessoal com projetos de poder que não levam à transformação necessária.
O que é de mais urgente em termos econômicos?
Vou dar a minha opinião.
Acho que no campo econômico, precisamos focar em uma questão fundamental, que é o equilíbrio fiscal.
Para fazer isso, temos de, obrigatoriamente, endereçar a questão dos subsídios que foram concedidos a diversos setores empresariais.
Esses recursos públicos totalizam cerca de R$ 300 bilhões.
Outra questão que precisamos resolver é a Previdência, principalmente retirando os privilégios.
Com o excedente de recursos que nós teremos em função de endereçamento das questões do crivo fiscal, poderemos investir mais em infraestrutura.
E no lado político e social?
No lado social, é o velho ditado “o trabalho dignifica do homem”.
Precisamos gerar empregos e promover um investimento maciço em educação.
Todos os países que se transformaram passaram pela melhor qualidade na educação da população.
Os resultados que nós estamos vendo, recentemente, demonstram que o Brasil não está com a profundidade e nem com a qualidade necessária para fazer a reversão da educação.
O que precisa ser feito no aspecto político?
No lado político, acho que a questão fundamental é rearranjarmos a situação.
Precisamos reduzir o número de partidos, colocar a cláusula de barreira e a fidelidade partidária como condição básica.
O país não pode conviver com a quantidade de partidos que tem e precisa também reduzir o financiamento público de campanhas, que é extremamente oneroso e mal distribuído entre os partidos.
Nunca vi isso em nenhum lugar do mundo, dar um ministério para um partido A ou B e falar:
“vocês façam o que quiserem com esse ministério.”
Isso é um desgoverno.
Mas a estrutura política no país impõe esse modelo…
Sim, mas o país precisa de um projeto de longo prazo, um plano estratégico.
A primeira coisa que um presidente faz quando assume uma organização ou empresa é enxergar e desenvolver as vantagens competitivas e qual o plano estratégico para aquela empresa.
No caso do governo, é preciso se questionar o tempo todo.
O que queremos para o Brasil?
Como que nós vamos ao longo do tempo inserir o Brasil na economia mundial de uma forma intensa?
Como vamos gerar competitividade?
Então, precisamos trabalhar a questão política de uma forma completamente diferente da que nós temos hoje.
Pelo que o sr. tem visto até agora nos planos de governo dos candidatos, existe uma esperança de melhora?
Outro dia me perguntaram se eu era otimista, e eu respondi o seguinte: eu sou reformista.
O Brasil precisa ser reformado, o Brasil precisa se redesenhar.
Então, não adianta ter esse otimismo bobo, e dizer que sou otimista ingênuo porque quero um Brasil melhor.
Todos queremos.
O problema é que se não fizermos as reformas necessárias, não vamos chegar lá.
Então, eu sou reformista, temos que reformar o Brasil, em qualquer que seja o governo.
A minha opinião, e eu quero reiterar isso, é que qualquer governo de extremo, qualquer que seja ele, não conseguirá fazer as reformas necessárias.
Por isso que eu defendo uma tese de que nós temos que buscar uma solução de centro no Brasil, que seja adequada e que consiga fazer as reformas necessárias.
Mas nesta eleição há uma clara tendência entre os eleitores de penderem para os extremos…
Concordo, mas acho que o populismo é muito simples de ser compreendido pela população.
É muito simples fazer promessas que não são baseadas em números, em fatos, em ações, que sejam concretas.
Prometem durante a campanha, mas não vão entregar.
A questão é que, para entregar, é necessário ter maioria no Congresso.
Para ter maioria no Congresso, os extremos tendem a ter muita dificuldade em construir.
Então eu acho que é muito importante que a população saiba que o fundamental para o Brasil são as reformas e para isso precisamos se alguém que consiga liderar as reformas pró-Brasil.
Sem as reformas, como será o Brasil em 2019?
Sem as principais reformas, podemos ter voo de galinha, mas nunca teremos um crescimento sustentável.
Qualquer seja o eleito em outubro, vamos ter um natural movimento de esperança, visto que a maior parte da população vai ter votado nesse eleito, mas rapidamente nós vamos ter, a partir do ano que vem, as frustrações, se não conseguirmos aprovar as reformas.
Se o populista não conseguirá governar e os candidatos de centro não convencem o eleitor, como a economia vai crescer então?
O país só consegue crescer por três fontes.
Primeiro, por aumento dos gastos do governo, algo que não é possível no Brasil diante do imenso déficit que já temos.
O segundo, por consumo, o que não dá para acontecer porque o emprego está em baixa, e a população já tem um razoável nível de endividamento.
O terceiro é por investimento, mas para isso tem que ter credibilidade, confiança.
São nessas questões que deveríamos estar focados.
Sem as reformas, não teremos esse nível de confiança.
Como o cenário internacional pode beneficiar ou prejudicar o Brasil daqui pra frente?
A gente não pode olhar apenas para setores específicos da economia.
Os exportadores claramente estão se beneficiando por essa taxa de câmbio, mas temos de olhar além.
Temos que olhar como que nós conseguimos desenvolver uma economia que tem inserção no mercado mundial.
O Brasil é um país fechado e não está ganhando produtividade. Isso é muito ruim.
O Brasil tem de entender que precisa de inserção global.
Nesse contexto de dólar em alta e demanda internacional crescente, como está a Suzano?
Estamos num momento muito positivo, mas acho que a tônica nesse momento não é discutir Suzano, é discutir o Brasil.
A Suzano passa por um momento positivo, estamos em um processo de associação com a Fibra, que é extremamente importante para o Brasil e extremamente importante para a criação de oportunidades e competitividades no setor de papel e celulose global.
Mas é um movimento privado.
Temos que buscar movimentos públicos, que gerem a competitividade brasileira, que não pode ser só através de uma desvalorização cambial, e sim pela inserção global do Brasil.
A guerra comercial entre Estados Unidos e China está influenciando?
O Brasil tem uma tendência de ter baixo trade mundial.
Por isso, somos menos afetados na primeira onda. Mas, em um segundo movimento, somos afetados porque tanto os Estados Unidos quanto a China são os maiores parceiros comerciais brasileiros.
Isso pode vir afetar as importações para essas regiões.
Entre os candidatos à Presidência, quais têm levantado a bandeira da competitividade de forma mais incisiva?
Muitos falam sobre isso, mas a questão não é só da indústria como um todo.
Precisamos agregar mais valor para o Brasil, de forma geral.
Para criar mais valor, é preciso ampliar a digitalização e a redução do tamanho do Estado.
O governo tira da economia, entre arrecadação e déficit, cerca de 40% do PIB.
Por isso, o Brasil precisa ter um estado mais adequado, mais competitivo.
O centro da discussão não é Estado maior ou Estado menor.
O que importa é se ele é eficiente e competitivo.
As crises nos países vizinhos, especialmente na Argentina e na Venezuela, podem ser obstáculos para o Brasil?
Essa é uma questão momentânea.
Além disso, como temos pouco relacionamento comercial em termos de volume proporcional ao PIB com esses dois países, afeta pouco o Brasil.
É mais uma questão de geopolítica do que uma questão econômica.
Fonte: Embalagem Marca