No país da ‘retomada’, comércio cai pelo segundo mês e indústria acumula quatro quedas

Segundo o IBGE, consumidor sente efeitos da inflação. E a produção, sem dinamismo, está abaixo do nível anterior à pandemia

Por Redação RBA

Foto Fernanda Cruz/Agência Brasil

São Paulo – O volume de vendas no comércio caiu 1,3% de agosto para setembro, segundo informou nesta quinta-feira (11) o IBGE. Foi a segunda retração seguida. Alguns dias atrás, o instituto havia reportado queda de 0,4% na produção industrial, no mesmo período, somando quatro consecutivas, período em que acumulou perda de 2,6%. Embora os dados anuais se mostrem positivos, os últimos resultados reforçam a visão de que a sempre anunciada “retomada” da atividade econômica segue distante.

No caso do varejo, o setor acumula crescimento de 3,8% no ano e de 3,9% em 12 meses, segundo o IBGE. “Esse segundo mês de queda vem com intensidade razoável, mas em menor amplitude que agosto (-4,3%)”, afirma o gerente da pesquisa, Cristiano Santos. “Depois da grande queda de abril do ano passado, início da pandemia, veio uma recuperação muito rápida que levou ao patamar recorde de outubro e novembro de 2020. Depois tivemos um primeiro rebatimento com uma nova queda forte em dezembro e dois meses variando muito próximo do mesmo nível pré-pandemia, até março, mês a partir do qual houve nova trajetória de recuperação. Desde fevereiro de 2020, o setor vive muita volatilidade”, acrescenta.

Segundo o analista, um fator determinante na queda de setembro é a inflação. “As mercadorias subiram de preço. Em combustíveis e lubrificantes, por exemplo, a receita foi -0,1%, totalmente estável, e o volume caiu 2,6%. O mesmo vale para hiper e supermercados, que passa de 0,1% de receita para -1,5% em volume”, exemplifica. Já o segmento que reúne vestuário e calçados tem queda expressiva em volume e receita, “sinalizando deflação gerada pela redução da demanda”.

Na comparação com setembro do ano passado, o movimento no varejo cai 5,5%. De oito atividades pesquisadas, sete têm redução. O de móveis e eletrodomésticos, por exemplo, cai 22,6%. E o segmento que reúne hiper e supermercados, além de produtos alimentícios e bebidas, tem retração de 3,7%.

Perda de dinamismo
No setor industrial, a atividade acumula expansão de 7,5% no ano e de 6,4% em 12 meses. Mas, mesmo assim, a indústria se encontra 3,2% abaixo de fevereiro de 2020, no pré-pandemia. E 19,4% abaixo do nível recorde, registrado em maio de 2011.

“Houve queda na produção em sete dos nove meses deste ano”, comenta o gerente da pesquisa industrial, André Macedo. “O que há de diferente em setembro é que a retração foi mais concentrada em poucas atividades. Mas isso não significa necessariamente que haja mudanças no comportamento predominantemente negativo do setor industrial, uma vez que ele é ainda bastante caracterizado pela perda de dinamismo.”

Em relação a setembro do ano passado, a atividade recua 3,9%. Cai em três das quatro categorias pesquisadas e em 18 dos 26 ramos. Entre os setores, o IBGE cita destaca produtos alimentícios (-11,9%), veículos automotores, reboques e carrocerias (-7,9%) e coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-4,6%), entre outros.

“Há um efeito da base de comparação. À medida que o ano vai avançando, a base de comparação de 2020 aumenta. Mas há também uma relação direta com o menor dinamismo que o setor industrial vem mostrando”, diz o pesquisador.