MS exportou U$$ 945,7 milhões de celulose no primeiro semestre

Mato Grosso do sul tem 1,1 milhão de hectares de florestas plantadas. O Estado perde apenas para Minas Gerais, com 1,7 milhão de hectares. O setor também é um dos que mais exporta e impulsiona a economia.

O Capital News conversou com o engenheiro florestal e presidente da Associação Sul-Mato-Grossense de Produtores e Consumidores de Florestas Plantadas (Reflore/MS), Moacir Reis, sobre o atual cenário, as expectativas econômicas e políticas.

Mato Grosso do Sul exportou cerca de U$$ 945,7 milhões de celulose no primeiro semestre de 2018.

Qual a importância econômica do setor para o estado?

Moacir Reis – Dentro do setor florestal, existe o segmento de celulose, que compete em números diretamente com a soja. Em alguns meses do primeiro semestre, chegou até a ultrapassar.

Em faturamento bruto, foi o produto que mais faturou no Estado. Sabemos que é algo novo em Mato Grosso do Sul.

A primeira fábrica de celulose e papel foi a da VCP (Votorantim Celulose e Papel), que se instalou em Três Lagoas, em 2007 e 2008. Depois veio a fusão da VCP com a Aracruz e virou a Fibria.

Logo em seguida, tivemos uma nova indústria, a Eldorado Brasil. Atualmente, Mato Grosso do Sul produz cerca de 4,5 até 5 milhões de toneladas por ano e Três Lagoas é praticamente a capital mundial da celulose.

A Fibria duplicou a fábrica e a Eldorado Brasil também já anunciou a duplicação, que está prevista para 2020/2021.

Ou seja, a produção do estado vai aumentar para 7 milhões de toneladas de celulose.

Fora outros projetos que estão sondando MS, outros players que estão pensando em investir.

Temos um potencial de floresta produtivas, com uma legislação ambiental tranquila e uma logística boa para escoar para São Paulo, Santos e Paranaguá.

Só a Fibria e a Eldorado empregam diretamente 10 mil pessoas e são mais cerca de 50 mil pessoas na região de Três Lagoas sendo empregadas pelo setor de celulose e papel.

A área florestal também tem outros segmentos importantes. A produção de ferro gusa é movida através de carvão vegetal de florestas plantadas. Mato Grosso do Sul, há dez anos atras, era um grande produtor.

Temos seis alto-fornos no estado, destes apenas três estão em operação: dois em Corumbá e um em Aquidauana.

O segmento retomou nos últimos seis meses e gerou uma boa expectativa.

Quais as expectativas para os próximos meses?
Moacir Reis – Mato Grosso do Sul tem boas expectativas.

Na região leste, é necessário tomar alguns cuidados para incentivar os produtores a plantarem. Hoje, existe um excesso de madeira.

O setor florestal tem uma área de floresta significativa e uma sobra de madeira, devido algumas regiões que não tem aptidão florestal e expandiram o plantio, como norte e sul do estado.

Isso deixou o mercado com sobra de madeira e o preço caiu.

Apesar disso, a expectativa para os próximos meses é que o preço comece a melhorar devido a questão do aquecimento do ferro gusa.

O setor de celulose vai bem, tem a matéria-prima já garantida e o mercado é muito estável.

Como a exportação dos produtos é feita em dólar, a rentabilidade é interessante para o produtor florestal e para as indústrias de celulose.

As expectativas para os próximos meses são boas.

Apesar de ter uma turbulência política do país, sabemos que o setor caminha sozinho.

Existe sim um pouco de receio por causa das eleições.

Porém, os investimentos são a médio e longo prazo.

Quando se planta uma árvore, tem que colher ela com seis anos.

Então, é um investimento a longo prazo comparado com a soja, o milho e outras culturas.

É um segmento que tem uma estabilidade de preço boa, desde que o produtor faça um planejamento florestal de onde vai plantar a floresta com o consumo.

Como está o cenário do setor após a greve dos caminhoneiros?
Moacir Reis – A greve atrapalhou um pouco sim. As empresas de celulose tinham estoque de madeira, então não chegaram a parar nenhuma fábrica.

Mas outros setores, como o de ferro gusa, que depende muito da matéria prima e o estoque é baixo, foram afetados diretamente.

Tanto que as indústrias ficaram paradas, principalmente em Corumbá e também em Aquidauana.

Estimo que o prejuízo causado seja de R$ 5 a R$ 10 milhões.

Também afetou o preço do carvão vegetal, que não parou de produzir e sobrou um estoque muito grande.

Isso está se equilibrando agora, somente depois de quase dois meses do fim da greve.

Foi necessário adotar alguma medida para minimizar os impactos?
Moacir Reis – Alguns setores foram a favor, outros contra a greve dos caminhoneiros.

Orientamos a todos para aguardar a negociação com o Governo.

Não chegou ser tomada nenhuma medida drástica, sobre aumentar ou diminuir a produção depois da paralisação.

O Brasil precisa se estruturar.

Os nossos custos são infinitamente maiores que os de outros países que nem produzem combustível.

A carga tributária está insuportável para o empresário.

O Governo sempre fala que vai ter uma reforma tributária, mas isso nunca acontece.

Optamos por não tomar nenhuma medida drástica, porque é algo muito complicado.

Mandar parar de produzir gera desemprego, para de faturar.

Temos certeza de que a greve foi boa de forma geral, mas a médio e longo prazo ela não teve um bom efeito.

A curto prazo diminuiu o ICMS do Estado de 17% para 12%, baixou o diesel, que é o principal custo na produção hoje, principalmente devido a questão dos transportes e mecanização.

Em relação às eleições 2018, tanto do Poder Executivo, quanto do Legislativo, quais são as expectativas do setor?
Moacir Reis – O setor florestal vai fazer uma pauta para os candidatos ao Governo do Estado e a Deputados.

Nos últimos 12 anos o setor cresceu de forma exponencial, saímos de um pouco mais de 100 mil hectares para mais de 1 milhão de hectares.

Nós temos algumas pautas ainda para cumprir e para fazer um plano de governo, principalmente em relação à legislação ambiental do setor florestal de Mato Grosso do Sul e à legislação ambiental geral de MS.

Precisamos manter uma política de proteção ambiental, porém não podemos afetar o desenvolvimento econômico.

Por isso MS cresce e desenvolve.

Outros estados não conseguiram ter uma política ambiental confortável, que gerasse confiança para investidores.

Os projetos que vieram para cá seriam em outros estados, que tem uma competitividade e logística melhores que o nosso.

Porém, como temos uma legislação ambiental tranquila e segura, os investidores trouxeram os investimentos de celulose e papel.

Temos que mostrar isso tanto para o Executivo, quanto para o Legislativo, porque a segurança jurídica é fundamental para qualquer investidor.

Algumas leis estão sendo analisadas, principalmente em relação à política de suprimento sustentável.

Existe uma pressão grande sobre a madeira nativa.

Nós temos o interesse que o consumo diminua, mas que não acabe de forma radical porque tem muita madeira regular e com abundância dentro do Estado.

A Reflore e a Câmara Setorial de Floresta estão discutindo um posicionamento, vamos criar uma estratégia de consumo de madeira nativa dentro de MS.

A cadeia produtiva que consome madeira nativa vai poder ser organizar e dar apoio ao poder público, aos órgãos fiscalizadores, como Ibama e Imasul.

Sabemos que o desmatamento acontece. Com a tecnologia que existe hoje e as imagens de satélite podemos diminuir o desmatamento ilegal.

Sabemos que a madeira de floresta plantada pode substituir a madeira nativa com segurança, inclusive certificada e exportada para vários locais do mundo.

Fonte: Capital News