Sindicalista e deputado estadual cassado pela ditadura, apoiador de Jango, ele esteve presente na mobilização que resultou no 13º. Tinha 103 anos
Fonte: Por Vitor Nuzzi, da RBA
São Paulo – O ex-sindicalista e ex-deputado estadual Clodesmidt Riani, 103 anos, morreu na tarde desta quinta-feira em Juiz de Fora (MG). Ele era o último remanescente do Comando Geral dos Trabalhadores (CGT), entidade formada em 1962 e dissolvida após o golpe que acaba de completar 60 anos. Na última segunda-feira (1º), por sinal, Juiz de Fora recebeu a Marcha da Democracia, inclusive com a presença de João Vicente, filho do ex-presidente João Goulart, que Riani conheceu bem.
Nascido em Rio Casca, na Zona da Mata mineira, Riani completaria 104 anos em outubro. Ele iniciou sua trajetória sindical já em Juiz de Fora, como trabalhador da antiga Companhia Mineira de Eletricidade. O dirigente, por sinal, foi preso há exatos 60 anos, em 4 de abril de 1964, ao se apresentar ao comando da 4ª Região Militar.
Cinco anos atrás, morreu outro líder do CGT, o piloto Paulo Mello Bastos, aos 101 anos. Em 2020, foi a vez do ferroviário e militante Raphael Martinelli, 95. Agora, com Riani – que havia sobrevivido à covid em 2020 –, se vai grande parte da memória sindical.
Deputado cassado
Riani havia sido eleito deputado estadual pelo PTB em 1962. Com mais dois parlamentares, teve o mandato cassado pela Assembleia de Minas Gerais, em 8 de abril de 1964, uma semana após o golpe. Estava na quinta legislatura. Em 1994, o Legislativo restituiu simbolicamente os mandatos.
“Homem que fez história na cidade. Uma perda para Juiz de Fora. Morreu no dia que ele se apresentou no golpe militar. Pai amoroso, deixou muitas pessoas de lado para cuidar dos filhos do Brasil. Considerado o pai do 13º salário”, comentou Clodesmidt Riani Filho. No total, Riani teve 10 filhos, 18 netos e 25 bisnetos.
Políticas nacionais
A prefeitura decretou três dias de luto. “Teve em sua atuação políticas de grande repercussão nacional, que culminaram com aprovações de leis sociais importantes para o país, tais como o 13º salário”, afirmou o Executivo municipal. O sepultamento está previsto para as 16h de amanhã (5), no Cemitério Parque da Saudade.
Riani também comandou a Confederação Nacional dos Trabalhadores da Indústria (CNTI). E foi um dos líderes do CGT, entidade que teve origem em uma greve em julho de 1962. A direção era composta, principalmente, por sindicalistas ligados ao PTB e ao PCB. Foi a entidade máxima do sindicalismo de 1962 a 1964, em um período em que a legislação não previa a figura da central sindical.
“A Força Sindical lamenta o falecimento de Clodesmidt Riani. Sindicalista combativo, lutou pelo abono salarial, que se transformou no 13º Salário”, afirmou a central, em nota. A Lei 4.090, de julho de 1962, que instituiu o benefício, então chamado de “gratificação de Natal”, foi resultado de uma intensa mobilização do movimento sindical, sob pressão patronal.