Diante da crise política, econômica e sanitária, lideranças sindicais e sociais endossam a necessidade do impeachment de Jair Bolsonaro
São Paulo – Jair Bolsonaro não está preparado para enfrentar os problemas causados pela pandemia do novo coronavírus. A falta de políticas econômicas e medidas sanitárias e os possíveis crimes de responsabilidade indicam a necessidade da instalação de um processo de impeachment do atual presidente, na avaliação de lideranças sindicais e de movimentos sociais.
A presidenta dos Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, Ivone Silva, lamenta que, precisando combater o coronavírus, o Brasil tenha um “governo que não governa” diante da maior crise sanitária e política da década. Na avaliação dela, o discurso do presidente sobre a falta de alternativas à população, que vai “morrer de fome ou de covid-19”, é uma desculpa para a falta de proposta. “Ele deveria proteger a economia e a saúde do povo. Todos os países estão incentivando a reconversão industrial. Cada país vai cuidar da sua população. O Bolsonaro tem que criar políticas para o Estado, fortalecendo a indústria e combatendo a covid-19”, criticou, em entrevista às jornalistas Talita Galli e Marilu Cabañas.
O presidente da CUT, Sérgio Nobre, lembra que o auxílio emergencial é fruto da luta dos trabalhadores, enquanto o governo buscava pagar apenas R$ 200. Segundo ele, o impeachment se tornou uma necessidade para o país.
“Nós não temos um governo, não temos um presidente. Se ele fosse sério, convocaria os representantes dos trabalhadores e dos empresários para discutir como proteger o emprego e as empresas. Chamaria os governadores e prefeitos para saber como atravessar a pandemia, mas ele não tem essa capacidade. Não podemos mais ter essa agenda do Paulo Guedes de ‘pibinho’. Precisamos de um projeto”, acrescentou Nobre.
Enfraquecimento do governo
Na última sexta-feira (24), o ex-juiz Sergio Moro deixou o Ministério da Justiça. Em seu pronunciamento, Moro indicou crimes de responsabilidade de Jair Bolsonaro, como a interferência na Polícia Federal, e vazou conversa com o presidente feita por meio de um aplicativo de mensagem.
O presidente já estava fragilizado politicamente após ter participado das manifestações antidemocráticas, no último dia 19. Com o agravamento da crise política, as lideranças acreditam que a bandeira do “Fora Bolsonaro” deve ser levantada.
“Como pode um presidente eleito ser contra o processo que o elegeu? Ele foi a um ato pelo fechamento do Congresso Nacional. É totalmente despreparado para ser presidente. Nosso debate precisa ser voltado à defesa da democracia e à manutenção do direito ao voto. Não é o melhor momento para abrir o processo de impeachment, mas é difícil manter um presidente que não zela pela democracia”, criticou Ivone.
Pé atrás
O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Wagner Santana, o Wagnão, acredita que é preciso cautela para endossar o afastamento de Bolsonaro. “É um processo doloroso e o tempo que toma da sociedade nesse debate é exaustivo. Temos que estar com todos os focos voltados à pandemia, que vai até o segundo semestre. Andar essa agenda sanitária junto com a do impeachment não é favorável”, alertou.
Por outro lado, o dirigente afirma que não houve competência do governo para preparar o Brasil no enfrentamento dessa crise. “Estamos discutindo com empresas que não têm dinheiro para pagar os 30% do contrato do trabalho, vamos ter um desastre econômico. O governo não está preocupado em proteger emprego, 60% do PIB brasileiro é movimento pela renda familiar. Portanto, veremos o aumento do desemprego, o fechamento de empresas e o empobrecimento do povo”, lamentou.
O coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) João Paulo Rodrigues acrescenta que não é possível continuar o debate sobre o coronavírus e a crise econômica com Bolsonaro no poder, mas alerta sobre a efetivação do vice-presidente, Hamilton Mourão, no cargo da presidência.
“A nossa preocupação com o impeachment é que o governo Bolsonaro será mantido com o Mourão na presidência. As coisas não vão melhorar, pois o pensamento militar é o mesmo”, finaliza.
Fonte: Rede Brasil Atual