Papel é tudo igual, correto? Para a FibraResist, não mesmo. A empresa de Lençóis Paulista, no interior de São Paulo, conseguiu aliar inovação, sustentabilidade ambiental e crescimento econômico ao lançar uma técnica de produção de celulose inédita no mundo. A partir da palha de cana-de-açúcar, a FibraResist quer transformar o mercado mundial de produção de papéis e embalagens.
O projeto teve início há pouco mais de seis anos, quando o pesquisador e químico industrial José Sivaldo de Souza buscava novas fibras para produção de papel. Dessa pesquisa surgiu o biodispersante, um produto criado pela própria FibraResist que separa as fibras da palha da cana-de-açúcar e a molécula que dá rigidez a suas células.
O processo, garante Souza, tornou a matéria-prima para a produção de papel 100% sustentável. “Por ser uma fibra virgem, a pasta celulósica derivada da palha da cana não sofre perda com impurezas e, por isso, produz mais com menor quantidade de insumo”, afirma.
No começo, diz Souza, o maior desafio foi saber como posicionar o produto no mercado, um problema recorrente quando se fala em inovação disruptiva. “Uma das maiores dificuldades foi precificar essa nova matéria-prima. A precificação ainda está em fase de consolidação, só no futuro esses valores serão detalhados e a comercialização será feita de acordo com oferta e procura”, conta o pesquisador, que ocupa o cargo de diretor de desenvolvimento da FibraResist.
A tecnologia promissora chamou a atenção de investidores. Antonio Cesar Merenda, presidente do Grupo Cem, viu potencial na empreitada e resolveu comprar parte da sociedade. Na época, a pequena equipe de 14 colaboradores produzia anualmente 50 toneladas de pasta celulósica. Recentemente, a FibraResist inaugurou sua nova fábrica, com 60 mil metros quadrados e capacidade para produzir até 72 mil toneladas da pasta por ano. Para isso, a empresa fez um investimento de R$ 25 milhões – parte do valor financiada pela Desenvolve SP – Agência de Desenvolvimento Paulista.
E não é só comercialmente que a inovação da FibraResist apresenta transformações positivas. Ao retirar a palha da cana do solo diminui-se consideravelmente o risco de queimadas e a proliferação de pragas, dois dos problemas mais comuns em lavouras. Com a proibição da queima de palha da cana, prevista para entrar em vigor em todo Estado de São Paulo no próximo ano, o manuseio e tratamento adequado desse material é mais um benefício em que empresa aposta para conseguir novos clientes.
Aos poucos, as vantagens competitivas desse novo método têm conquistado espaço e uma relação amistosa com a concorrência. “Estamos em contato com diversas indústrias que têm interesse em testar nosso produto. O que esperamos é uma relação saudável de troca de ideias e até parcerias, a fim de que inovações constantes resultem em produtos cada vez melhores para empresas e para as pessoas, de uma forma geral”, afirma Souza.
Para alcançar o maior número de clientes, a empresa continua trabalhando para manter o custo da produção dentro dos estudos e projeções, além de buscar novas formas para apresentar o produto. Uma das barreiras a serem vencidas pela FibraResist é a resistência do setor às novas tecnologias. Muitos empresários ainda são refratários ao abandono de fontes tradicionais para confecção de papel.
Os próximos passos da FibraResist envolvem trabalhar na consolidação do negócio de uma forma competitiva e sustentável e aprimorar o projeto de expansão com a abertura de novas unidades, mas sem perder o foco no planejamento. “Nossa meta é sempre trabalhar com os pés no chão e os olhos no futuro, enxergando um horizonte otimista não só para o nosso negócio, mas para toda economia brasileira”, conclui Souza.
Fonte: Celulose Online